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Exposição Anterior

29/10/2021 - 19/03/2022

Se Erguendo Tenda, Onde Entrem Todos

O Centro de Arte Quetzal tem o prazer de apresentar a exposição coletiva Se erguendo tenda, onde entrem todos.

Com obras de Hugo Canoilas, Fernanda Fragateiro, Marta Mateus, Rui Moreira, António Poppe, Bert Teunissen, Francisco Tropa, Maria Ana Vasco Costa e Stephen Wilks.

Curadoria de Aveline de Bruin e Luiza Teixeira de Freitas.

O título escolhido para a segunda parte desta colaboração vem do mesmo poema de João Cabral de Melo Neto, Tecendo a Manhã, referido na exposição anterior, criando um diálogo entre as duas interações.
Os artistas reunidos contam histórias que funcionam como catalisadores de todas as ideias do passado e pretendem olhar para fora, para o outro, para as colaborações, mostrando como as referências se entrelaçam e existe a necessidade absoluta de trabalharem juntos. Recorrendo aos mais diversos suportes – filme, desenho, fotografia, escultura e som, as obras desta exposição estão inseridas no tempo, materiais que contam histórias – sejam estas pessoais ou não.

Marta Mateus

(1984) Vive e trabalha entre Lisboa e o Alentejo

A exposição inclui dois trabalhos de Marta Mateus: o filme ‘Farpões Baldios’ e a instalação sonora ‘Fogo do Vento’. O trabalho de Marta Mateus é ancorado na sua infância no campo, na agricultura e o trabalho com a natureza, na memória e no cruzamento entre tempos históricos. A intuição de que a força que rege a vida natural é a mesma que move comunidades e pensamentos, a palavra falada, lendas e mitos, vínculo de transmissão através das gerações. Marta Mateus procura os seus vestígios e ritmos nos rostos, nos gestos, na vivência das estações, nas marcas na paisagem e vê na experiência direta a única forma de partilhar saberes e ensinamentos. Na busca de guardar e preservar a herança desses movimentos entre gerações e paisagens vão-se tecendo territórios oníricos e políticos.

António Poppe

A exposição conta com um desenho de grande escala de António Poppe, pensado para este espaço, inaugurando um novo momento na prática do artista. A instalação parte de um desenho em duas folhas, um retrato do seu filho João. O trabalho é depois repleto daquilo que, e espelha o que, torna a obra de António Poppe sua: mensagens poéticas e onomatopeicas, performance, jogos, desenho, caligrafia, colagens infinitas ainda que invisíveis. Profundamente introspectiva e meditativa, a obra do artista traz à exposição um tipo de experiência do tempo não linear, mas em bloco, que nos cai em cima de repente, como um vento fresco.

Stephen Wilks

(1964, UK) Vive e trabalha em Berlim

Stephen Wilks é conhecido pelas suas performances, ‘Animal Farm’ e ‘Trojan Donkey’. O fascínio pela iconografia antropomórfica, em que as características humanas são atribuídas aos animais, desempenha um papel importante na sua prática artística.

Wilks organizou desfiles de rua, com animais gigantescos que eram carregados por pessoas nas mãos. A questão da corrupção de ideais está na vanguarda das questões levantadas: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais do que outros. Para ‘Trojan Donkey’, Wilks carregou um burro de pelúcia em tamanho real nas costas. O burro viajou ao redor do mundo e ficou com pessoas que por sua vez deram ao burro uma mensagem pessoal. ‘Wearing a donkey on the back (‘Usar um burro nas costas’) refere-se não apenas à gíria regional inglesa, mas também ao humor noir, descrito pelo surrealista André Breton (1935). O burro como um animal de carga, que em muitas culturas está associado à pobreza, torna-se um dos principais significados no trabalho de Wilks.

No primeiro capítulo desta exposição, mostramos ‘Donkey Roundabout’ de Stephen Wilkes, que simbolizava todos os diferentes burros que viajaram pelo mundo, poeticamente aludindo à rotação da história e das histórias contadas e transmitidas oralmente. Agora, para ‘Se Erguendo tenda onde entrem todos’, Stephen criou um novo burro com tecido tradicional fabricado em Portugal pela Fabrical, marca têxtil holandesa residente em Monsaraz. O burro marcará presença na abertura da exposição, antes começar uma viagem por Portugal.

A ideia é que vá a outros museus, escolas ou até mesmo às casas das pessoas e colecione suas memórias e histórias. Estas serão carregadas pelo burro e passadas ​​de um lugar para outro para as mãos de outros. Este é um trabalho que homenageia, não só uma lenta vivência do tempo, atenta à viagem e ao encontro do outro, mas também ao artesanato local, com o burro feito localmente, bordado ao “estilo português”.

Para esta exposição Wilks diz: ‘Muitas vezes me perguntam quando vai terminar o projeto do burro, é um trabalho cumulativo e todo o tema da viagem dos burros continua a gerar novas ideias’.

Agradecimento especial à Mizette Nielsen que nos deu o lindo tecido para o projeto.

Fernanda Fragateiro

(1962) Vive e trabalha em Lisboa

Na obra “Processo”, de Fernanda Fragateiro, coincidem investigação e prática artística, arqueologia e escultura, arquitetura e comunidade. São colagens de “restos” do Bairro 6 de Maio, que a artista colheu, colou e reanimou. Fê-lo no sentido físico, recolhendo andaimes, pedras, cimentos, mas mantendo presente a questão – o que são na verdade os “restos” de uma comunidade? Onde estão as pegadas das conversas, dos companheirismos, das rotinas da comunidade 6 de Maio? Talvez ao escutar a obra de Fragateiro, através dela, poderemos entrar de novo no Bairro, sorrir para as pessoas e ouvir as suas histórias. A peça que, à primeira vista, parece um esboço para algo, apenas o início ou fim de um andaime em construção, ou quiçá uma ruína de algo, convidará quem a encontrar a ouvir os seus segredos, para além de se deslumbrar com a técnica que lhe subjaz.  Em dialogo não só com as outras obras da sala, assim como para dentro de si mesma, através de si mesma.

Rui Moreira

(1971) Vive e trabalha em Lisboa

A prática artística de Rui Moreira debruça-se sobre as viagens que faz, os livros que lê, a música que ouve e os filmes que o rodeiam. Vemos os Himalaias, florestas Amazónicas, Portugal transmontano, Hitchcock, Kubrik, Bach, escalas indianas e muitos outros, organizados meticulosa e lentamente em estruturas geométricas, arquiteturas do pensamento. O artista propôs-se a dedicar um ano até completar “Em busca do tempo perdido”, o desenho apresentado nesta exposição, exatamente o mesmo tempo que durou a sua leitura da obra homónima de 1913 de Marcel Proust. Acompanhado destes dois objetos, a folha de papel e o livro, isolado numa divisão com apenas luz artificial, o artista mergulhou em si mesmo e nas suas memórias, por vezes irreais mas sempre seletivas. Viu nele próprio o horizonte infinito do deserto. O espaço exterior do desenho está repleto de interiores do corpo, intestinos, espinhas dorsais ou medulas, que aludem a este espaço que é tão psicologicamente como fisicamente interior. Estamos dentro do corpo do artista. A geometria circular, reminiscente de uma lâmpada mágica do tempo dos primeiros passos do cinema – outra grande obsessão do artista – é preenchida com representações oníricas de memórias do mesmo. Uma infância a pescar com o pai no rio e ver um anzol a ser espetado no seu olho, a sua participação na tradição transmontana dos caretos, uma cena de um filme de Marta Mateus (artista também presente nesta exposição), entre infinitos outros. “Em busca do tempo perdido” é um trtabalho sobre o amor que passa através de gerações sem ser ensinado, sobre saber esperar pelo tempo do próprio desenho, sobre avançar de costas para o passado a olhar o pôr do sol.

Francisco Tropa

(1968) Vive e trabalha em Lisboa

O dia de inauguração da exposição contará com um concerto dos ‘Osso Exótico’ — Powwow (André Maranha, David Maranha, Francisco Tropa, Manuel Mota, Patrícia Machás). O grupo atuará sobre a obra de Francisco Tropa, um conjunto de esculturas de bronze à lá Bacon, desavergonhadas e grotescas. O artista foi buscar instrumentos musicais ao talho, membros de corpos, congelou-os no bronze e, com ironia e humor, deu-lhes a tarefa de produzir aquilo que existe de menos corpóreo na arte: som. O som que sai destes membros animais é de tal modo invisível, sem forma e sem cheiro, que a inesperada associação deste a um conjunto de pedaços de carne, pesados para as mãos e para o olhar, putrefatos para o nariz imaginário, nos confunde. A escultura existe no decorrer da exposição com a dupla identidade de ter existido enquanto instrumento musical ativo no concerto e depois por si mesma.

Maria Ana Vasco Costa

(1983) Vive e trabalha em Lisboa

Maria Ana Vasco Costa apresenta para esta exposição desenhos e esculturas de chão, algumas destas expostas pela primeira vez sob plintos feitos in situ pela artista com tijolos artesanais. Formada em arquitetura, Vasco Costa tem um interesse especial em explorar as limitações formais das matérias e métodos utilizados em cerâmica, em específico do azulejo. Este fascínio é aliado às suas raízes açorianas, rodeada de natureza crua, pedra vulcânica e imensidão, a artista vê através destas forças a sua plasticidade estética. As esculturas, delicadas e sedutoras, sugerem não só este passado e esta inspiração, como o temperamento da artista, ou da máscara que procura passar. Os desenhos de aquarela, ramos das esculturas, apresentam-se como o vento leve que as envolta. Juntas, estas obras são vividas imensamente, quase como uma instalação natural.

Bert Teunissen

(1959) Vive e trabalha em Países Baixos

A exposição conta com três trabalhos de Bert Teunissen. Fazem parte de um projeto que o artista iniciou há mais de 20 anos – “Paisagens Domésticas”. Bert Teunissen procurou fotografar interiores domésticos em todo o mundo, numa mescla de estilo entre fotografia de de interiores e retratos. Os habitantes de cada fotografia fazem parte do espaço, misturam-se nas cores, nas paredes e nos móveis e respiram com o edifício. Teunissen escolhe espaços antigos e inalterados, pessoas idosas, dando preferência a situações não modernizadas. Memórias vivas de um passado que já se foi ou que nunca existiu. Para esta exposição são apresentadas “Azaruja”, “Mazouco” e “Cabeçudo”, três imagens tiradas no Alentejo, Portugal. Os dois primeiros enquadram-se na definição de paisagens de interiores domésticos, alusivo ao enquadramento do projeto, enquanto que o terceiro, “Cabeçudo”, foge à regra, por ser num espaço exterior. De um ponto de vista metáforico e em linha com o conceito da exposição, o espaço doméstico do indivíduo é ampliado para conquistar também o exterior.

Hugo Canoilas

Osmose é uma comissão de parede de Hugo Canoilas.

Departing from an idea to develop and produce traces of paintings on the wall as they happen in his own studio walls, and use them as non-rational maps where some imagery around his previous grotto project could be placed. The grotto was a project developed by Hugo Canoilas with Galeria Quadrado Azul, in Lisbon. Using part of the gallery’s basement floor, the grotto worked as a collective work and an experimental platform that seeked to create a community between a group of artists, the gallery and its audience. The wall he produced for Quetzal (2021), unfolds a map of already done interventions, historical associations, and many desires. The marks are made with high fluid acrylic paint on a thin canvas and water and the imagery is transferred (with a special water-based material) from digital prints into the wall. The way they are done creates a kind of camouflage or discovery game of the viewer, who seeks to discover among the wall-painting the hidden insertions.