
Orla Barry & Rui Chafes, Golden Pocket, 2017
A colaboração Orla Barry e Rui Chafes recua a 2002. Golden Pocket (Algibeira Dourada), criada de raiz para o Quetzal Art Centre é a terceira obra que resulta do encontro entre duas linguagens e materiais que se situam aparentemente em polos opostos: o ferro e a palavra.
Barry (1969, Wexford, Irlanda) trabalha com a linguagem escrita e falada em registos tão diferentes como a performance, o vídeo e peças de som; Chafes (1966, Lisboa) fez do ferro o material de eleição para as suas obras pintadas de negro. Em Golden Pocket estes dois artistas criam um universo muito próprio que se situa entre o poético e o orgânico, entre o físico e o metafísico, entre a metáfora e a metamorfose.
Os quinze metros da cortina-espiral em que as palavras se organizam, ora em diagramas geométricos e fechados, ora em pontuações fluídas e esvoaçantes, conduzem-nos a uma criatura híbrida que tanto pode pertencer ao reino animal, como ao reino vegetal ou simplesmente ao reino da ficção científica.
As palavras remetem ora para o mundo rural — adultera agrícola, a mente do pastor — ora para um mundo onde isolamento e comunicação são duas faces da mesma moeda — estas palavras são tuas ou minhas?, poça léxica, diálogo enigmático ao telefone — num registo poético e lírico pleno de incerteza, humanidade, redenção, catarse e um profundo desejo de chegar ao “outro”.
O “outro” que a escultura em ferro concretiza, mas não apazigua. Pelo contrário, inquieta ainda mais na sua não pertença a nada que identifiquemos com o mundo concreto e visível.
“On entering this space you fall through the gaps between the colours of the rainbow” estas foram as palavras dos dois artistas para descreverem esta sua colaboração.
Isabel Carlos