
Segundo Espinosa, a nossa perceção da realidade é moldada pelo nosso ponto de vista individual e pelas ferramentas que utilizamos para compreendê-la. Quando a nossa perspetiva é limitada ou até mesmo dogmática, apenas apreendemos uma parte restrita da realidade. O verdadeiro conhecimento do mundo advém da troca ativa e contínua de pensamento livre.
A grande arte também desafia a nossa perspetiva sobre o mundo. E não é por acaso que muitos artistas se inspiraram em Espinosa, cujos textos podem ser interpretados como uma reflexão sobre racionalismo ou metafísica, ateísmo ou panteísmo, democracia ou totalitarismo. Parece haver um Espinosa para todos os gostos. Os artistas desta exposição exploram diversas reflexões de Espinosa. Convidam o subconsciente a expressar-se e celebram a nossa capacidade de raciocínio. Encontram formas de nos orientarmos dentro de um todo maior, ou até de esbater as fronteiras entre corpos humanos e não-humanos, revelando uma sensualidade partilhada com o mundo natural. Alguns desafiam por completo os binarismos — de género, entre corpo e espírito, ou entre natureza e Deus.
Num momento em que a polarização e as alterações climáticas pairam sobre nós, a filosofia de Espinosa — uma filosofia do pensamento livre, da ética e da interconexão — revela-se mais pertinente do que nunca. Enquanto judeus portugueses, a própria família de Espinosa foi perseguida por motivos religiosos e teve de fugir para os Países Baixos. Exibir estas obras no Quetzal Art Center, na Vidigueira – terra natal do pai de Espinosa – torna esta exposição ainda mais especial.
Curadoria de Aveline de Bruin.
(Texto: Anna Lillioja)